De CPF a signo chinês: site de venda de ingressos vazava seus dados

De CPF a signo chinês: site de venda de ingressos vazava seus dados

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Publicado em 28 out 2025, 11h27 | Atualizado em 28 out 2025, 11h27

Portal BuyTicket permitia livre acesso às informações pessoais de uma pessoa apenas com seu CPF

Pessoa digitando em um teclado de notebook com um sinal de alerta pairando sobre o teclado
Empresa admitiu a vulnerabilidade e afirmou que a corrigiria; fizemos novo teste (Imagem: VRVIRUS/Shutterstock)

Na era digital, com a quantidade cada vez maior de dados e informações que compartilhamos online, fica mais e mais difícil mantê-los seguros, pois os hackers fazem de tudo para encontrar uma brecha nos sistemas de internet.

Praticamente todos os dias vemos notícias de vazamento de dados, como senhas, nomes completos, endereços, etc. Um dos mais recentes, por exemplo, envolveu o Gmail, com milhões de senhas vazadas. E isso ocorre no mundo todo, em maior ou menor escala, como o caso que o Olhar Digital vai contar abaixo.

Tela de cadastro do BuyTicket
Tudo acontecia ao clicar em “Cadastrar” e inserir seu CPF no site da BuyTicket (Imagem: Reprodução)

Vazamento de dados via CPF estava acontecendo sutilmente

Na semana passada, o Olhar Digital recebeu uma denúncia do ethical hacker Luiz Le Fort, na qual o portal de venda e compra de ingressos BuyTicket estava vazando dados apenas com a inserção de seu CPF. Contudo, a forma como isso estava acontecendo era “invisível” a quem pouco ou não conhece informática. Funcionava assim:

  • Você abria o site da BuyTicket, entrava na área de login e, então, em “Cadastrar“;
  • A seguir, ao digitar seu CPF e clicar fora da caixa de inserção do número do documento, a caixa de baixo, na qual deveria ser digitado seu nome, o trazia automaticamente — ou seja, seu nome era exibido apenas com a inserção de seu CPF;
  • Mas demais dados também estavam vazando. No caso, era necessário acionar a opção “Inspecionar” do navegador para ver o que estava acontecendo. Nesta página, desenvolvedores podem analisar informações da página HTML do site;
  • Uma vez nessa página, ao acessar uma categoria específica, um código apresentava várias outras informações da pessoa, como endereço, nome da mãe, telefone e, até, o signo chinês;
  • O time de tecnologia do Olhar Digital foi acionado e confirmou o vazamento.
  • Detalhe: fizemos alguns testes e ninguém tinha cadastro prévio no site.
Ao abrir a página “inspecionar”, uma página HTML como esta era aberta, exibindo vários dados do usuário. Nós apagamos os dados mais sensíveis e mantivemos apenas o signo, signo chinês e nacionalidade. (Imagem: Reprodução/Olhar Digital)

Entramos em contato com a BuyTicket para informar o que estava acontecendo. Em resposta, a empresa afirmou que o sistema utilizado é legal.

“Esclarecemos que o processo mencionado faz parte do nosso fluxo de Know Your Customer (KYC), etapa essencial para a validação e segurança de novos cadastros em nossa plataforma. O KYC é um procedimento amplamente utilizado por empresas que realizam transações financeiras — como bancos, e-commerces e serviços digitais — tendo como principal objetivo verificar a identidade dos usuários e prevenir fraudes“, explicou, em nota.

Ainda, a empresa salientou que seu website utiliza APIs responsáveis por consultar dados públicos e privados, incluindo a Receita Federal. “A ferramenta citada é de uso aberto e pode ser contratada por qualquer companhia“, prosseguiu.

Porém, a BuyTicket admitiu a vulnerabilidade e informou que corrigiria o problema. Após este contato, realizamos um novo teste e, de fato, as informações vazadas não estão mais aparecendo.

“Reforçamos que, diante da situação apontada, removemos consultas desnecessárias e mantivemos apenas o mínimo estritamente necessário para assegurar a proteção de nossos clientes e de toda a operação”, afirmou, garantindo que, “apesar do uso do KYC, nenhum dado de usuário cadastrado em nossa base foi exposto“.

Parte jurídica

Leandro Alvarenga, consultor de privacidade e segurança e colunista do Olhar Digital, afirmou que o incidente demonstra “indícios claros” de violação à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), “em especial aos princípios da segurança, da prevenção e da confidencialidade”.

O especialista disse que isso está comprovado pela resposta dada pela empresa ao Olhar Digital. “A própria manifestação da empresa confirma que o incidente decorreu de falha de programação em sua integração via API”, continuou.

Escrito "LGPD" em fundo amarelo ao lado de um cadeado aberto com a bandeira do Brasil impressa
Especialista aponta que a LGPD não foi respeitada neste caso (Imagem: SkazovD/Shutterstock)

Ele explicou ainda que, apesar de parte das informações serem de bases públicas, é de responsabilidade da companhia como vai tratar tais dados, “devendo observar os deveres de sigilo e de adoção de medidas técnicas e administrativas aptas a proteger os dados de acessos não autorizados”.

Alvarenga também questiona a justificativa dada pela BuyTicket de que a ferramenta utilizada no website é aberta e que qualquer outra empresa pode utilizá-la, indicando que isso “não exime o controlador de responsabilidade”.

“O fato de utilizar um provedor de dados público ou privado não autoriza a exposição desses dados em ambiente acessível ao público, tampouco o tratamento sem base legal ou sem medidas adequadas de segurança”, detalhou.

O consultor de segurança também indicou os passos que a BuyTicket deveria realizar após constatar a vulnerabilidade:

  • Comunicar imediatamente o incidente à Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), indicando a natureza dos dados afetados, medidas técnicas e de segurança utilizadas, riscos envolvidos e medidas adotadas;
  • Notificar os donos dos dados vazados, caso o ocorrido possa trazer riscos ou danos relevantes, permitindo que tomem providências para se protegerem de cibercriminosos;
  • Documentar internamente o fato e revisar seus fluxos de segurança, de modo que evite que isso se repita;
  • Revisar as integrações de APIs e o uso de serviços de terceiros, “assegurando que contratos e protocolos de comunicação prevejam medidas adequadas de segurança e de confidencialidade”.

Alvarenga ainda ressaltou a necessidade do cumprimento de boas práticas de KYC e trabalhar as boas maneiras em conjunto com a LGPD. “O uso de tais procedimentos deve sempre estar condicionado aos princípios da necessidade, minimização e finalidade, de modo que apenas os dados estritamente necessários sejam tratados, e jamais expostos de forma inadvertida”, afirmou.

Olhar Digital entrou novamente em contato com a BuyTicket para questionar se entraria (ou se já entrou) em contato com a ANPD para informar a situação e se informou as pessoas afetadas pela vulnerabilidade. Estamos aguardando o retorno e, assim que o tivermos, atualizaremos esta reportagem.

Fonte: Olhar Digital

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Ary Vasconcelos – Especialista em Conteúdo para o COMPARTILHAR NA REDE Ary Vasconcelos é um especialista na criação de conteúdos relevantes e informativos para o COMPARTILHAR NA REDE, abordando temas de grande interesse para o público.

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