Refinaria Abreu e Lima carrega histórico de corrupção que levou a fiscalização rigorosa para construção do Trem 2
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Publicado em 02 dez 2025, 09h14 | Atualizado em 02 dez 2025, 09h21

No centro dos escândalos que deram origem à Lava Jato, a Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Ipojuca, no Grande Recife, carrega um passado marcado por denúncias de corrupção e sobrepreço. Nesta terça-feira (2), o presidente Lula volta a Pernambuco para oficializar a ampliação da capacidade de processamento da unidade. A segunda linha de operação, o chamado Trem 2, receberá um investimento de R$ 8,3 bilhões.
A nova etapa reacende expectativas — e também memórias. A construção do Trem 1, concluída na década passada, terminou com um custo final de R$ 20,1 bilhões após o envolvimento de empreiteiras em um esquema de propina, conhecido como Petrolão. O orçamento original previa um gasto de US$ 2,4 bilhões.
A história da Refinaria Abreu e Lima está diretamente ligada a um projeto binacional que nunca saiu do papel. Em dezembro de 2005, Lula e o então presidente da Venezuela, Hugo Chávez, lançaram a pedra fundamental do empreendimento em meio ao barro do canteiro inicial, com a promessa de uma refinaria construída em parceria para processar petróleo venezuelano pesado.
A cooperação, porém, se desfez antes mesmo da inauguração, quando em 2013, Caracas abandonou oficialmente o negócio, e a Petrobras assumiu sozinha todos os custos.
Atraso nas obras
O funcionamento da unidade só começou nove anos após o lançamento, em dezembro de 2014, com três anos de atraso em relação ao cronograma inicial. Também passou longe do clima festivo de 2005. A produção de diesel iniciou de forma discreta, enquanto a Lava Jato avançava sobre contratos e executivos ligados ao empreendimento, tornando a Rnest um símbolo de desperdício de recursos públicos.
A refinaria concentrava algumas das principais frentes de investigação do Petrolão, esquema que envolvia superfaturamento, cobrança de propina e lavagem de dinheiro por parte de empreiteiras contratadas pela Petrobras.
No auge das obras, o canteiro em Suape reunia 19 empresas e consórcios — entre eles Odebrecht, Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez e Engevix — sob supervisão da Diretoria de Abastecimento, comandada por Paulo Roberto Costa (falecido em 2022, vítima de câncer). Ele próprio, em delação premiada, admitiu que contratos eram isuperfaturados, em média, em 3%, desviando milhões para partidos e agentes públicos.
A dimensão do problema foi registrada pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Em relatório de 2021, o órgão apontou que o custo da Rnest saltou mais de oito vezes desde a concepção, de US$ 2,4 bilhões para R$ 20,1 bilhões. As sucessivas revisões de projeto, antecipações indevidas e cancelamentos geraram prejuízos bilionários e deixaram a refinaria operando, ainda hoje, com metade da capacidade prevista inicialmente.
Bolsonaro quis vender a Rnest
Na gestão de Jair Bolsonaro, a solução vislumbrada era vender a Rnest. Em 2019, já no primeiro ano de mandato, o então presidente incluiu a refinaria no plano de desinvestimentos da Petrobras, dentro da estratégia de reduzir a atuação da estatal no refino e ampliar a competição no setor.
A Abreu e Lima entrou na lista de oito refinarias colocadas à venda e permaneceu nesse portfólio até o fim de 2022. Apesar do interesse de grupos privados, o processo não avançou — em parte pelo alto valor do ativo e pela indefinição sobre a conclusão do Trem 2. Com a mudança de governo, a Petrobras retirou a unidade do programa de desinvestimentos e retomou o plano de expansão.
Trem 2 de volta
O tema voltou à agenda do governo no início deste ano, quando Lula visitou a refinaria já em seu terceiro mandato e prometeu concluir o empreendimento, incluindo a ativação do Trem 2. A declaração veio acompanhada de um compromisso público de evitar os erros do passado, especialmente no relacionamento com as empreiteiras.
Mas a prática levantou questionamentos. Empresas vinculadas às antigas obras voltaram a vencer contratos, dentre elas a Consag, ligada à Andrade Gutierrez e a Tenenge, do grupo Novonor (ex-Odebrecht). Além da CPL, Possebon, Tecnosonda e Schneider Eletric.
A condução da nova etapa das obras também levou o TCU a emitir alertas recentes. O tribunal apontou que as propostas apresentadas pelas empreiteiras estavam acima do orçamento de referência da Petrobras, o que poderia comprometer a viabilidade econômica do projeto.
Diante disso, a estatal anunciou o encerramento da licitação para o Trem 2, alegando falta de convergência entre valores propostos e limites internos de custo. Em nota, afirmou manter “compromisso com a transparência e a conformidade” e ressaltou a importância da atuação do TCU no aprimoramento dos processos internos.
É nesse contexto que Lula retorna a Pernambuco nesta terça-feira, para confirmar um novo ciclo de investimentos e, ao mesmo tempo, tentar reposicionar a Rnest como um ativo estratégico — agora distante, ao menos no discurso, dos erros que marcaram sua origem.
Fonte: JCPE
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